terça-feira, 31 de março de 2015

Projeto Filme 1612, baseado no livro de Ana Luiza Almeida Ferro, escritora, historiadora e acadêmica.


Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, 
outras constroem moinhos de vento.
[Érico Veríssimo]

Há moinhos que precisam de ventos novos que levem brisas a todas as direções!
[Ana Felix Garjan]

Primeira página de um projeto de futuro



Capa do livro premiado da escritora e historiadora
 Ana Luiza Almeida Ferro


Nesse dia de 31 de março de 2015 inauguramos o Blog Oficial do Projeto FILME 1612 - A Fundação de São Luís pelos Franceses, baseado no livro premiado 1612 - Os Papagaios Amarelos na Ilha do Maranhão e a Fundação de São Luís, de autoria da escritora, historiadora e acadêmica Ana Luiza Almeida Ferro, nascida em São Luís - Patrimônio Cultural da Humanidade.


            Poster de divulgação do Projeto FILME 1612 - A fundação de São Luís pelos franceses


O FILME 1612 é uma proposta para o desenvolvimento e organização de um projeto baseado no livro premiado com Menção Honrosa Prêmio Pedro Calmon do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 18 de março deste mês: "1612 - Os Papagaios Amarelos da Ilha do Maranhão e a Fundação de São Luís", de autoria da escritora, historiadora, poeta e acadêmica Ana Luiza Almeida Ferro. Esse projeto foi idealizado pela escritora, poeta, artista plástica, fotógrafa, acadêmica e produtora cultural e diretora geral do Grupo ARTFORUM Brasil XXI, Ana Maria Felix Garjan, com a autorização oficial da autora da obra.

Sobre cinema

A relação entre cinema e patrimônio abrange pelo menos duas dimensões, sendo a primeira o valor das imagens em movimento como documento. Esse reconhecimento de que estamos diante de um testemunho de época, de um registro de eventos que deve ser guardado para o futuro, de um elemento constitutivo da memória de uma sociedade, é contemporâneo ao surgimento do próprio cinema.


Disse o mestre Amílcar de Castro:
"O objetivo da arte é descobrir, conhecer e modificar o mundo".

O que seria do mundo, se não houvesse a percepção, a inspiração, a ousadia dos poetas, escritores, artistas e pensadores? O que seria dos artistas, poetas, escritores e filósofos, se não exercessem sua liberdade de ir e vir com sua palavra, gesto, atitude, trabalho, sua arte e sua poesia que toca a alma...

Entre idealistas e materialistas dialéticos, há muitas aproximações e distanciamentos ao longo da escrita da história da humanidade e da sua arte. Cada um em seu tempo e seu espaço real e imaginário apontou-nos uma perspectiva que compõe o presente e pode se redefinir na construção do futuro.

E se não houvesse o fazer artístico, a produção individual, os movimentos coletivos representados por seus legítimos autores, aprendizes e mestres das artes e poéticas contemporâneas, nesse tempo de mudança da primeira para a segunda década do século XXI tão cheio de contradições, de catástrofes e de avanços da ciência? O que seria da sociedade e do amplo contexto histórico do Brasil de 515 anos, se não fossem os movimentos de arte, poesia, literatura, cinema, teatro, música, e os novos diálogos em constante mudança, diante dos temas que desafiam o humano, que sugerem transformações na cultura global, na perspectiva do futuro?...

Filósofos nos ajudam a pensar a arte e a vida:
Alguns trechos do texto de Kierkegaard – Temor e Tremor, IN: VALCÁRCEL, Amélia. Ética contra estética, São Paulo: Perspectiva: SESC, 2005, p.37-38:

“Se não existisse uma consciência eterna ao homem, se, como fundamento de todas as coisas, se encontrasse apenas uma força selvagem e desenfreada, a qual, retorcendo-se em paixões obscuras, a tudo gerasse tanto o grandioso quanto o insignificante, se um abismo sem fundo, impossível de ser preenchido, se ocultasse por trás de tudo, que outra coisa seria a existência senão desespero? E se assim fosse, se não existisse um vínculo sagrado que mantivesse a união da humanidade, se as gerações se sucedessem umas após outras do mesmo modo que um bosque renova suas folhagens, se uma geração continuasse outra da mesma maneira que de árvore em árvore um pássaro dá sequência ao canto de outro, se as gerações passassem por este mundo como os navios no mar, como o furacão atravessa o deserto – atos inconscientes e estéreis -, se um eterno esquecimento sempre voraz se apoderasse de tudo e não existisse um poder capaz de arrancar-lhe este butim, quão vazia e desolada não seria a existência!"

Maria Inês Hamann Peixoto, numa abordagem sob a ótica filosófica afirma: "A arte como trabalho criativo, unifica dialeticamente sentimento, imaginação, razão, mãos. A obra de arte seja popular ou não, erudita ou inédita, então, concretiza-se, ganha existência, simultaneamente fertilizando e criando a riqueza da sensibilidade e da subjetividade humanas. A Arte, então abrange logicamente expressa, a dialética da práxis humana em toda a sua complexidade e plenitude, da qual emerge um novo produto ou uma nova realidade de ordem material ou espiritual, e um novo artista".
(Trecho extraído do livro Arte e Grande Público - a distância a ser extinta - Maria Inês Hamann Peixoto. - Campinas. SP: Autores Associados, 2003).

A arte da palavra livre e a estética das expressões humanas fazem parte da mesma matéria que é movida por uma energia humana interior que não pode ser vista, nem tocada, mas pode ser sentida, e seus resultados são expressos de diversas formas. Assim, desejamos que a arte, a poesia e as expressões humanas possam ser lidas como algo maior que a própria palavra ou a obra de arte exposta, que passa a ter sentido em seu DNA e gênesis, quando sai dos sentimentos, do pensamento crítico do poeta e do artista, das palavras que possuem sentido que podem ir ao encontro da Anima de cada pessoa, para gerar nova alquimia poética e o surgimento de uma arte nova e um novo artista.

As artes, as poéticas das palavras, as inspirações, as estéticas e atitudes humanas dos poetas e artistas devem estar cada vez mais comprometidas, com a missão dos herdeiros legítimos da arte e da poesia, em contribuir com a sociedade, na perspectiva de um mundo melhor. Desejamos abraçar o mundo da arte, da literatura, da poesia, da música, das artes visuais, da música, através de estilísticas e contemporâneas compartilhadas, pois somos todos passageiros do amanhã, herdeiros do tempo, da história e da arte e das diversas expressões artísticas, na perspectiva de hoje e do amanhã. E um dos pontos de conexão que une todos é o conceito da cultura e arte de paz que reúne milhares de pessoas de todos os países dos continentes e do Brasil.

Há que termos vontade cultural política, para sermos multiplicadores de propostas éticas e transformadoras que possam representar novo pensamento, nova corrente filosófica e até um novo paradigma cultural relacionado com a Paz da Humanidade, pois a Paz representa inspiração e luz aos poetas, artistas e cidadãos planetários. As estilísticas contemporâneas são conexões que nos unem nas esquinas do universo real, virtual e global, neste ano de 2015, quase às vésperas do final da segunda década do século XXI, quando a contagem regressiva se faz veloz para a entrada da terceira década, que nos levará rumo ao futuro – hoje para o amanhã, pois o século XXI nos desafia, a cada instante, através dos diversos movimentos da cultura global, e nos provoca a percepção, concepção, elaboração e construção de novas cenas artísticas e culturais nas cidades e países onde muitos se encontram para falar do valor da cultural do passado, bem como da velocidade que existe na tecnologia e ciência da comunicação entre as pessoas, grupos, organizações, instituições e setores dos sistemas de governos das pequenas e grandes potências mundiais. 

Há um grande interesse humano em ler o mundo, para que os autores das mudanças coletivas possam contribuir com a sociedade diante das problemáticas da humanidade, da natureza e do planeta, a partir da arquitetura do pensamento, da estética, poética e consciências de cada participante das transformações filosóficas, políticas de mudança e atualização das linguagens de comunicação entre as pessoas, através de um livro de arte diferenciado que apresenta um diálogo entre linguagens, estilos, escolas e filosofias.

Diante das dificuldades pelas quais está passando o nosso planeta, e o que está sofrendo a humanidade por diversos motivos oriundos do desequilíbrio ambiental causadores de grandes catástrofes, em todas as partes do planeta, sabe-se que os resultados do aquecimento global no âmbito terrestre, ambiental, ecológico, social e político são drásticos e assustadores. Assim, desejamos que as artes, a literatura, a poesia, o conceito de cada manifestação e linguagem artística possa ser lidas como uma oportunidade de interpretar o belo, a arte social, a valorização e respeito ao humano, à natureza, às ciências, à espiritualidade, ao planeta e ao universo.

Queremos novos poemas, nossa arte, novas expressões e linguagens literárias, poéticas e artísticas em prol de um mundo melhor. Por isso somos poetas e mensageiros da história, do presente e do futuro.

Vamos reinventar a vida da arte e a arte da vida?

Ana Felix Garjan - Diretora cultural

Grupos ArtForum Brasil XXI

Os scripts da concepção cultural do projeto estão sendo organizados conforme os objetivos desse pré-projeto que possui concepções multiculturais, de acordo com sua idealizadora, Ana Felix Garjan.

De uma janela pode se avistar o outro lado do mundo, e um outro ponto do horizonte cultural que existe entre os continentes, entre os oceanos, entre os pontos cardeias que ligam o mundo. 





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Divulgamos referências sobre o livro 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís, obra histórica da autora Ana Luiza Almeida Ferro, que disponibilizou essa sua síntese literária, reafirmando sua autorização para construir os roteiros do projeto do filme, e nomeando a escritora e acadêmica  Ana Maria Felix Garjan, como diretora cultural desse projeto.


TÍTULO DO LIVRO (EDIÇÃO BRASILEIRA):
1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís
ISBN 978-85-362-4911-7 (Curitiba: Juruá, 2014, 776 p., capa dura, cor amarela)


TÍTULO DO LIVRO (EDIÇÃO EUROPEIA):
1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís
ISBN 978-989-712-299-6 (Lisboa: Juruá Editorial, 2014, 775 p., brochura, cor azul)


CAPA DO LIVRO: imagem do Rei Luís XIII de França. A cidade de São Luís foi batizada em sua homenagem.


RESUMO BIOGRÁFICO SOBRE A AUTORA:
Nasceu em São Luís, Maranhão, Brasil. Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG) e graduada em Letras e Direito (UFMA), Promotora de Justiça, professora da Universidade Ceuma, conferencista e palestrante nacional, Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica (SBPJ), sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), membro efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ), da qual foi Presidente no biênio 2011-2013, da Academia Ludovicense de Letras (ALL) e da Academia Caxiense de Letras (ACL), membro honorário da Academia Paraibana de Letras Jurídicas (APLJ), portadora do First Certificate in English e do Certificate of Proficiency in English, pela University of Cambridge, Inglaterra, e do Certificat pratique de langue française, do Diplôme d’études françaises e do Diplôme supérieur d’études françaises, pela Université de Nancy II. Integra a Comissão Gestora do Programa Memória Institucional do MPMA. Foi Coordenadora de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Direito da ESMP-MA e Assessora de Procurador-Geral de Justiça. Autora de vários livros, sobretudo jurídicos ou de poesias: O Tribunal de Nuremberg, Versos e anversos (em coautoria), Escusas absolutórias no Direito Penal, Robert Merton e o Funcionalismo, O crime de falso testemunho ou falsa perícia, Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely, Quando, A odisséia ministerial timbira, Crime organizado e organizações criminosas mundiais, pelo qual foi entrevistada no Programa do Jô, da Rede Globo, O náufrago e a linha do horizonte, Criminalidade organizada (em coautoria), 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (edição brasileira) e 1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (edição europeia). Possui diversos artigos publicados em livros e revistas especializadas, a exemplo da Revista dos Tribunais. Contato com a autora: alaferro@uol.com.br.


PALAVRAS-CHAVE:
1) França Equinocial;
2) 1612;
3) Razilly;
4) La Ravardière;
5) Daniel de la Touche;
6) Maria de Médicis;
7) Luís XIII;
8) Richelieu;
9) São Luís;
10) Ilha do Maranhão;
11) papagaios amarelos;
12) tupinambás;
13) Claude d’Abbeville;
14) Yves d’Évreux;
15) Jerônimo de Albuquerque;
16) Diogo de Campos Moreno;
17) Martim Soares Moreno;
18) Alexandre de Moura;
19) Felipe III;
20) Guaxenduba;
21) franceses;
22) portugueses;
23) holandeses;
24) rochelenses;
25) guerras de religião;
26) mito da fundação;
27) Descobrimentos;
28) Brasil Colônia;
29) colonização;
30) canibalismo.


DEZ MOTIVOS PARA A AQUISIÇÃO DA OBRA:
1) é um estudo aprofundado, abrangente, sistemático, crítico e analítico sobre o tema pouco explorado da França Equinocial, desde os seus antecedentes e a sua fundação até a sua queda e os primeiros anos que se seguiram à expulsão dos franceses do norte do Brasil, em linguagem clara, precisa e didática;
2) apresenta um panorama da Era dos Descobrimentos e da presença dos franceses no Novo Mundo e no Brasil nos séculos XVI e XVII;
3) analisa as questões da fundação de São Luís, da estratégia francesa de busca de aliança com os índios e de condução de cerimônias (“conquista pelo amor”), em contraposição aos estilos espanhol e luso de conquista, e do mito português que envolve a fundação da cidade, procurando, de forma inédita, discriminar as fases, a evolução e as características deste;
4) procura resgatar o papel do francês François de Razilly, muitas vezes subestimado, como fundador de São Luís ao lado do compatriota Daniel de la Touche;
5) oferece, de forma crítica, uma história detalhada da cidade de São Luís, desde os seus primórdios até a ocupação holandesa, com ênfase na sua fundação pelos franceses;
6) descreve os esforços de colonização do Maranhão e do norte do Brasil pelos portugueses, especialmente, mas não apenas, no século XVII, sem esquecer a participação da Espanha nesse processo;
7) apresenta um panorama dos usos e costumes dos tupinambás do Maranhão na visão dos franceses, incluindo a prática do canibalismo;
8) oferece uma análise jurídica das Leis Fundamentais da França Equinocial, ressaltando a sua importância como primeira manifestação exibindo natureza constituinte elaborada nas Américas, precedendo a Declaração de Virgínia;
9) oferece uma visão didática sobre o desenrolar da Batalha de Guaxenduba, com ênfase na discussão das razões da vitória luso-espanhola;
10) é o mais completo estudo disponível sobre o tema central.


RELEVÂNCIA DO TEMA ABORDADO:
O livro, além de oferecer um estudo abrangente, aprofundado e crítico sobre a França Equinocial, tema pouco explorado, mas fundamental para a compreensão de como se verificou a colonização do norte do Brasil no século XVII, inova ao descrever e analisar o mito português relativo à fundação da cidade de São Luís, em suas fases e características, e ao resgatar o importante papel desempenhado pelo cofundador esquecido de São Luís, François de Razilly.


ÁREAS DE ABRANGÊNCIA DO ESTUDO:
1) História do Maranhão;
2) História de São Luís;
3) História do Brasil Colônia;
4) História das Américas;
5) História da França;
6) História de Portugal;
7) História da Espanha.


SINOPSE DO LIVRO:
O livro, prefaciado pelos historiadores Lucien Provençal e Vasco Mariz, tem como tema central a fundação da França Equinocial no Maranhão em 1612, focalizando desde os seus antecedentes até os primeiros anos que se seguiram à expulsão dos franceses do norte do Brasil.
É uma viagem exploratória e crítica que acompanha a Era dos Descobrimentos e a partição do Mar-Oceano, as primeiras tentativas portuguesas de povoamento e colonização do Brasil e do Maranhão, a definição nebulosa da origem do nome “Maranhão”, as investidas dos gauleses pelo Novo Mundo, as guerras de religião que ensanguentaram a França na segunda metade do século XVI e cujos efeitos ainda assombrariam o país e seus empreendimentos no século seguinte, a chegada de cerca de 500 franceses (os “papagaios amarelos”, como eram chamados pelos índios) à Ilha do Maranhão em 1612, o reconhecimento da terra, a fundação da cidade de São Luís, a decretação das leis institucionais da colônia, a convivência dos padres capuchinhos Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux com os tupinambás da ilha e das circunvizinhanças, o regresso de François de Razilly à França, os antecedentes, a deflagração e os desdobramentos da Batalha de Guaxenduba, a subsequente trégua firmada entre os gauleses e os lusos, a rendição do Forte São Luís, o destino das principais figuras da disputa franco-ibérica pelo Maranhão e os sucessivos governos de São Luís até a invasão holandesa.
Nesse estudo é reafirmada inequivocamente, em primeiro plano, a atribuição da honra da fundação de São Luís aos gauleses; ademais, são analisadas as fases e características do mito da “origem” lusitana de São Luís e é destacado o fato de que Razilly, diferentemente de La Ravardière, por muito tempo teve o seu papel na implantação da França Equinocial e na fundação da cidade subestimado.


ALGUMAS DAS CONCLUSÕES DA AUTORA NO LIVRO:
“28. A tese de que os lusitanos, ou mais especificamente Jerônimo de Albuquerque, foram os fundadores da cidade de São Luís traduz um mito de origem. Este mito foi construído por uma historiografia, alimentada por relatórios, cartas e outros documentos da época colonial, que, no período subsequente à conquista lusa, vocalizaram as posições, interesses e preocupações das elites políticas ibéricas (da metrópole) e dos segmentos sociais que as representavam ou simplesmente as apoiavam no Maranhão, para os quais era importante “encobrir a realidade”, ou seja, apagar os traços da ocupação francesa efetuada pelas letras e pelas armas na Ilha de São Luís a partir de 1612 e, concomitantemente, tachá-la de invasão promovida por hereges (protestantes), em desacordo com a vontade divina (daí a “história sagrada” relatando a interferência da divina Providência em favor dos católicos portugueses).
29. Tal mito sobrevive hodiernamente por intermédio de uma historiografia que desconsidera ou descontextualiza evidências histórias do feito de La Touche e Razilly, em prol da equivocada versão de que São Luís foi fundada pelos lusos. Este mito oferece, desde a sua concepção original, idealizações no tocante à atuação dos portugueses na formação da cidade (elevados, com todas as glórias, à categoria de heroicos conquistadores e fundadores de algo que já existia, que já fora fundado). Estas idealizações incluem, particularmente a partir do século XX, a exaltação, ora sutil, ora arrebatada, da figura de Jerônimo de Albuquerque como símbolo de brasilidade, de afirmação da identidade e integridade nacional, por suas raízes mestiças (em referência a ações praticadas numa época em que o Brasil ainda nem sonhava em ser uma nação independente), em contraposição à presença do estrangeiro invasor, predominantemente retratado e atacado na figura do fidalgo Daniel de la Touche.
[...]
33. Não há, nem nunca houve, uma única modalidade de fundação. As cidades nascem de diversas formas. Mas o início destas guarda pontos em comum. No dia 8 de setembro de 1612, São Luís reunia todos os padrões fundacionais. Possuía, no mínimo, um forte principal, que não era o único na ilha; uma praça pública para celebrações cívico-religiosas, que ganharia brevemente um pelourinho e uma forca; um porto; numerosas habitações de um ou dois pavimentos; um convento parcialmente edificado, primeira escola do Maranhão, cuja capela seria concluída no Natal, seguida da construção de outra capela; um grande armazém, tudo assentado em uma área delimitada e preparada por seus fundadores e pelos aliados indígenas para abrigar essa estrutura (um promontório previamente escolhido). E ainda cresceria nos anos subsequentes, até a queda da colônia, com o acréscimo, por exemplo, de lojas e uma serraria. Até a conquista lusitana, lá viveram, além dos nobres e dos soldados, diversos artífices – carpinteiros, pedreiros, fundidores, serralheiros, tecelões, alfaiates, sapateiros, entre outros –, dois astrólogos e um cirurgião, não apenas homens, mas também mulheres e crianças, comprovando a variedade populacional e a especialização de atividades já existentes na cidade em evolução.
[...]
35. A fundação de São Luís em nada foi inferior à fundação da maior metrópole brasileira da atualidade, das duas primeiras capitais do Brasil e da primeira capital de Sergipe, porquanto a instalação de frágeis núcleos primordiais, de palha, barro e madeira, foi um traço compreensivelmente comum a grande parte das cidades principiadas pelos lusos no Brasil Colônia. São Luís, em 8 de setembro de 1612, possuía muito mais estrutura que Salvador em 29 de março de 1549, que São Paulo em 25 de janeiro de 1554, que o Rio de Janeiro em 1º de março de 1565 e que Belém em 12 de janeiro de 1616, entre várias outras cidades iniciadas no Brasil dos séculos XVI e XVII.
36. O mito da “fundação” portuguesa da cidade de São Luís foi construído e fomentado como instrumento de afirmação da legitimidade da conquista e da colonização lusitana do Maranhão, por meio do apelo ao sagrado e da desqualificação dos franceses (acoimados de invasores, usurpadores e hereges), numa relação simbiótica entre a promoção dos interesses da fé e a dos interesses da Coroa, traduzida na comunhão de estratégias político-militares e letradas, em prol da edificação do Império luso, da justificação do poder colonial da metrópole e da expansão dos esforços de evangelização. No período colonial, o português Bernardo Pereira de Berredo representa muito bem a historiografia que bebeu das águas originais desse mito.
37. Com a proclamação da Independência do Brasil e a gradativa laicização da percepção de mundo, começa uma segunda fase, na qual o mito foi aos poucos adaptado aos novos tempos, quase dessacralizado, no entanto sem perder os seus traços francófobos de origem. Os gauleses ainda eram os invasores da terra, antes luso-espanhola, depois somente lusa, agora brasileira, mas perdeu o sentido chamá-los de hereges. Nesse contexto, Barbosa de Godóis confirma Berredo na atribuição da honra da fundação da cidade aos lusitanos, após a expulsão dos gauleses “invasores”, contudo deixa no passado o enfoque anti-heresia.
38. Em artigo de 1993, Olavo Correia Lima reflete uma terceira fase do mito português, na qual predomina o ataque a um suposto mito da fundação de São Luís pelos súditos de Maria de Médicis, identificado como “Mito Capital” (é o que denominamos “visão de espelho”).
39. Ainda nessa terceira e atual fase, a reprodução do mito da “fundação” portuguesa de São Luís atinge o seu apogeu no livro A fundação francesa de São Luís e seus mitos (2000), de Maria de Lourdes Lauande Lacroix, que desencadeia o aparecimento de outros textos de diferentes autores com a mesma temática da “visão de espelho”. O mito das origens lusitanas da cidade é então elevado a um novo patamar, mais sofisticado, com a atribuição de uma roupagem “científica” à tese da “fundação” lusa de São Luís, mediante o emprego de uma abordagem reducionista, de apelo em alguns setores da comunidade intelectual, centrada na sustentação de que a ideia da atribuição da fundação de São Luís aos franceses é um mero mito, que teria sido forjado a partir do começo do século XX no Maranhão, como produto dos interesses das elites decadentistas locais pela afirmação de uma identidade singular para a terra e do culto às origens francesas a partir do fim do século XIX.
[...]
41. A fundação não ocorre indefinidamente, embora seja produto de convenção a definição de quando ela se materializou. Mas, por qualquer critério que seja adotado, desde que não seja casuístico (como o implicitamente sugerido pelos defensores da fundação “portuguesa” da cidade, estabelecendo uma confusão entre fundação e urbanização, apenas aplicável ao Maranhão), mas, ao inverso, válido, por exemplo, para a colonização em geral no Brasil, a fundação de São Luís foi um feito francês [...].
46. Menosprezar o que foi deixado pelos franceses na Ilha Grande e utilizado, aproveitado, melhorado, remodelado, retraçado, abandonado ou destruído pelos portugueses em suas opções urbanizadoras é desconsiderar o fato de que São Luís certamente não existiria onde hoje a conhecemos e com o nome pelo qual a conhecemos não fora a ocupação gaulesa. Ou talvez jamais viesse a existir.
47. Os lusos apenas se estabeleceram onde se estabeleceram, apenas se “apressaram” em colonizar o Maranhão e o resto do norte brasileiro, porque a ocupação francesa os obrigou a tomar medidas enérgicas e inadiáveis para não perder toda a região.
48. O equivocado rebaixamento do fato histórico da fundação de São Luís pelos gauleses a uma mera condição de mito estimulado pelas elites decadentistas maranhenses leva à desconsideração de que a interpretação em prol do reconhecimento da “fundação” lusitana da cidade nasceu em um contexto de afirmação da legitimidade da conquista lusa do Maranhão e do poder colonial português, de interesse da Coroa e das elites que a apoiavam na metrópole e no Maranhão Colonial.
49. Inexistem dúvidas sobre a existência de um mito lusitano a respeito das origens de São Luís. Na outra ponta, inexiste mito francês no sentido que lhe dão Lacroix e os seus seguidores, de “tradição inventada”, de “criação fantasiosa de algo que desconhece o real”. A atribuição da autoria da fundação de São Luís aos gauleses encontra sólida justificação nos fatos conhecidos, revelados pelas fontes primárias. Ao contrário do que é frequentemente propalado, não é uma interpretação criada pelos Novos Atenienses, não está adstrita a um tempo (século XX) ou a um espaço (Maranhão). Neste sentido, o único mito possível é o da fundação “portuguesa” da cidade. Daí a constatação de que a controvérsia sobre a fundação de São Luís é uma falsa polêmica, em que um mito (luso), travestido de “ciência”, é contraposto à verdade histórica autorizada nas fontes disponíveis, inadequadamente transformada em mito (francês).
50. Por outro lado, todo acontecimento humano, todo fato relevante na história da humanidade, ocorrido em um tempo primordial, admite interpretações míticas, o que significa que a fundação de São Luís promovida por Daniel de la Touche e François de Razilly admite mitificações, entre francófilos e lusófilos indistintamente, por motivos distintos, sobre a atuação dos gauleses em aspectos raramente percebidos pelos estudiosos, como aquela que obscurece a figura de Razilly e o converte em um fundador frequentemente esquecido, apesar de sua posição de “senhor da colônia”, participante de todos os eventos preparatórios e implementadores da fundação e responsável pelo batismo do próprio forte que daria o nome à cidade, em favor da onipresente supervalorização da figura de La Ravardière, pois, enfim, é mais fácil e mais simbólico destacar os feitos de um único herói ou concentrar as críticas em um único vilão.”
Ver páginas 665-671 do livro 1612.


COMENTÁRIOS SOBRE O LIVRO:
“Ana Luiza présente avec sa rigueur et sa méticulosité de magistrate les événements qui ont précédé et suivi la fondation de Saint Louis; elle est pour moi l’héritière spirituelle de Mário Martins Meireles qui avait reçu à l’époque le soutien de l’Ambassade de France; elle est de ceux qui, tel Antonio Noberto, font revivre l’essai d’implantation d’une colonie française au Maranhão [...]. L’auteur a consulté avec une très louable persévérance tout ce que les historiens de toutes nationalités ont écrit sur le sujet; elle expose et analyse avec talent tous les arguments développés; rien ne lui échappe; les citations nombreuses renforcent une étude sans faille. Je partage totalement les conclusions de l’ouvrage. [...] Merci à Ana Luiza de nous faire revivre comme si c’était hier une histoire vieille de quatre siècles.”
Lucien Provençal

“O presente livro da senhora Ana Luiza Ferro é um estudo sério, bem documentado e pormenorizado desse episódio histórico, escrito com elegância e fluência de estilo. [...] Recomendo aos interessados e sobretudo aos pesquisadores a leitura e o estudo desta obra, que veio enriquecer a bibliografia da França Equinocial.”
Vasco Mariz

“Ana Luiza navega em mares nunca dantes navegados, pesquisa em águas profundas, usando fontes primárias, argumentos sólidos e persuasivos, com base no testemunho de autores nacionais e estrangeiros; ela veste a bata de professora de história em busca da verdade histórica e a beca de promotor de justiça em busca da justiça. [...] Com maestria e competência, com argumentos sólidos e convincentes, ela refuta uma a uma as afirmativas sem lastro histórico, os equívocos levantados pelos defensores da ‘fundação’ lusitana de São Luís, não deixando pedra sobre pedra. [...] É um livro para ser lido por pesquisadores, historiadores, professores, estudantes e por quantos se interessam por tão fascinante tema: a França Equinocial e a fundação de São Luís, cidade já quadricentenária. [...] É um livro que não ficará para a História, já está nela inserido.”
Wilson Pires Ferro (in memoriam)

“Mal comemorávamos estas pepitas, eis que aparece a presente obra, a joia da coroa, 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís, trabalho da consagrada escritora e promotora de justiça Ana Luiza Almeida Ferro, que, faz pouco tempo, nos encheu os olhos ao ser entrevistada no Programa do Jô Soares quando do lançamento do seu livro Crime organizado e organizações criminosas mundiais. [...] A obra de Ana Luiza, entre tantas outras coisas importantes, se dedica a esquadrinhar os mitos colonizadores portugueses semeados com fins políticos contra os estrangeiros ou qualquer outra possível ‘ameaça’. [...] Parabéns, Ana Luiza, pelo fogo da ciência que queima a palha e deixa apenas o firme fundamento e pelo forte sopro que desfez a cortina de fumaça da desinformação.

Antonio Noberto
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Brasil, 31 de março de 2015



Grupo ARTFORUM Brasil XXI - 15 anos
Projeto Azulejos Culturais de São Luís
& Anima Ludovicense 403/2015
ArtForum Internacional São Luís e Associados

Projeto Azulejos Culturais de São Luís 400
Projeto Centro Cultural e Acadêmico do Maranhão
Olimpíada Cultural/Anima Ludovicense
Cia. Azulejos Culturais de São Luís
Assessoria de Comunicação e Divulgação
.
Coordenação de edição: Ana Felix Garjan
E-mails: anafelixgarjan@gmail.com, artforum.brasil@gmail.com

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